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16 de novembro de 2009

Iniciando na Ciência da Gestão

Se você resolveu estudar administração, você resolveu estudar (segundo alguns) a maior inovação do século XX (!), a profissão que trata da transformação do conhecimento em resultados. Empolgante a afirmação, não? Pois bem, não posso negar que a gestão é aplicada nas mais variadas ocasiões que se pretende um resultado, um propósito. Podemos até exemplificar o seu uso em várias situações de grandes repercussões e sucessos na história, veja por exemplo: Projeto Manhattan, cujo o propósito era definido como: temos de produzir uma bomba atômica antes dos alemães. Foi necessário a reunião de vários cientistas de várias nacionalidades para esse fim (que aconteceu). Provavelmente sem gestão não teria sido possível.
Pense também no Projeto Apollo (vamos colocar um homem na lua antes do final da década de 60, em 1969 tinha um lá); ou em construção das pirâmedes; catedrais, et cetera. Tudo isso precisava (precisa) do conhecimento técnico, mas precisava de organização também, de gestão para se atingir o resultado esperado.


Mas a gestão como disciplina é relativamente nova. É da segunda metade do século XX. O que me deixa feliz. Sabemos por esse blog que o ensino da gestão é ruim, palpiteiro, sem critérios e métodos, com culto a personalidades apenas, e que como reflexo, fazendo a estatística de mortalidade das empresas serem absurdas. Mas vamos pegar leve, é uma disciplina relativamente nova ainda, seus códigos, estão sendo decifrados agora (tem muita coisa boa divulgada em gestão). Medicina, em seu início, também evoluiu de saberes intuitivos, até serem codificados e ensinados "para todos" (não mais aquele "gênio" apenas que detem o conhecimento, como em gestão ainda é frequente encontrar). Portanto, para ser considerada uma disciplina, ela precisará ter uma capacidade de observação de um determinado evento, e por sua vez, capacidade de prever os resultados do tal fenômeno agindo de certa maneira.

Fuja de afirmações genéricas

"Descentralizar um departamento, ou uma certa atividade, é a solução para as empresas."
"Ficar no que a empresa já está acostumada, é melhor que desbravar outros caminhos."
"Dar autonomia à ponta da operação é sempre melhor para as organizações."
"Ouvir o seu cliente, e atender suas necessidades, sempre é a melhor coisa a se fazer."

Declarações como essas, caro leitor, infelizmente é o que aprendemos no curso de Administração. Nos transmitem um conhecimento genérico, aplicável em qualquer circunstância. É assim mesmo que as coisas funcionam? Pense bem, em disciplinas que observamos, as coisas necessitam ser circunstanciais, não há uma solução, uma fórmula mágica, que resolvam todos os casos. Em medicina, há tratamentos muito bem definidos, mas de acordo com cada circunstância do paciente, tudo depende e depende. Veja, não estou dizendo que as afirmações acima são corretas ou verdadeiras em seus usos, estou dizendo que não podemos concluir nada sem antes observarmos em qual circunstância que a empresa se encontra, para daí sim confirmar um diagnóstico. Os cursos, definitivamente, não nos ensinam assim.

Fujam de correlações!

Ser capaz de ver "por trás" que todo mundo está vendo, isso será o relevante em gestão (assim como é em física, medicina, etc). E será o relevante por não se tratar de apenas uma correlação, e sim uma relação de causa e efeito. Um exemplo: "como constatamos que a maioria dos animais que voam têm asas e penas, se usarmos asas artificiais com penas, idem, vamos conseguir voar". É esse o tipo de pensamento impregnado em gestão hoje, o exemplo acima é de correlação, ou seja, existe uma correlação para animais que voam e usar asas, mas isso não prova nada, não torna o vôo possível; o que causa o vôo é uma força de sustentação de baixo para cima, que contrabalança a tendência da queda, uma vez dado o impulso inicial. Controle essa força, e daí sim poderá voar.

Os experts estudam uma meia dúzia de empresas de sucesso, e correlacionam certos atributos com seu sucesso,  um exemplo: verificam que essas empresas são "descentralizadas", ou "promovem pessoal de dentro da empresa em vez de contratar de fora", e generalizam essas correlações e dizem: quer dar certo também? Façam igual essas empresas. Outro exemplo mais claro: constatou-se que empresas familiares não sobrevivem à terceira geração (isso está correto), portanto, por correlação, se você quer ter uma empresa que dure, ela não pode ser familiar (isso está errado). Lembrem-se, correlação não diz nada, o que diz é causa e efeito de algo (o relevante, o "ver por trás"). Não é ser familiar ou não que determina a durabilidade de uma empresa, mas o tipo de gestão trabalhada nela.

O pessoal da gurulândia só te mandam fazer isso. Se "reinvente", seja "criativo", seja "humilde", "acredite em você", mas não nos dizem em quais circunstâncias isso terá efeito, apenas correlacionam fatos, e outorgam como verdades; nos dizem apenas para implantarmos asas artificiais. Alguma dúvida quanto ao que vai acontecer depois? Claro, vamos nos estatelar no chão com essas asas. Nos ensinar a verdadeira causa ou a controlar a força para voar? Não, isso eles não fazem...

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É a partir deste contexto, que vou iniciar uma série no blog sobre essa moldura, essa codificação tão esperada sobre gestão, e consequentemente para o ensino da mesma nos cursos de Administração.
Fiquem comigo!

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